Ao chegar aqui você deve apenas imaginar que é apenas mais uma review para exaltar a Liga Extraordinária de Alan Moore e Kevin O’Neil e falar como ela é boa e um quadrinho muito acima da média que todo leitor deveria conhecer. Dá para dizer que será apenas 50% disso.

Não pense também que tudo que verá será uma crítica ácida buscando defeitos na obra. Este não é o ponto que será chegado aqui. 

Liga Extraordinária sem dúvidas é um quadrinho muito bom, até mesmo acima da média para o que é oferecido dentro do mercado de quadrinhos, mas o maior problema é que como qualquer grande obra cultuada e que “todo leitor deveria conhecer”, é que ela não é uma leitura simples para todos os públicos.

A História

Recrutados pela Inteligência Britânica, a Liga Extraordinária é composta por pessoas e seres diferentes de qualquer outra já vista, unidos em prol de resolver um problema que irá afetar não só o Reino Unido, mas o mundo. 

A equipe é composta por famosos personagens da literatura britânica. A ambientação é na Inglaterra do Século 18 durante a Revolução Industrial em meio a um clima steampunk, em um mundo com a tecnologia muito mais avançada que o normal. 

Arte de Kevin O’Neil

A formação vista no quadrinho é dita como apenas mais uma de muitas outras que existiram ao longo dos séculos, e se torna até divertido tentar descobrir quem foram as antigas figuras que já fizeram parte deste diferenciado grupo.

Mas quem são essas figuras tão especiais que possuem a confiança da inteligência britânica para protegerem o mundo?

Os Personagens

É nesse ponto que Alan Moore demonstra seu trabalho acima da média, desenvolvendo uma grande gama de personagens, não excluindo nenhum e tornando todos interessantes com seus devidos momentos de destaque.

Como já citado, todos os principais personagens da história são grandes figuras da literatura britânica, como o Capitão Nemo de 20000 Léguas submarinas e Mr. Hyde de O Médico e o Monstro. Para evitar spoilers, é melhor evitar falar de alguns outros que tornam a descoberta parte do processo da história.

Arte de Kevin O’Neil

Mas é interessante como todos contam com momentos de glória e quedas, e suas personalidades diversas que causam climas de tensão e conflito entre cada um dos personagens, personalidades de muitos que chegam a causar repulsa no leitor e compreender até o mesmo o motivo deles não serem grandes aliados.

Uma leitura que pode ser cansativa

É notável o trabalho de pesquisa e arte de Kevin O’Neil em criar uma Inglaterra tão industrial quanto futurista no estilo steampunk, seu traço ajuda muito na imersão da história. São cenários que não importam para onde olhar, todos os lugares pedem uma pausa para admirar a arte.

Mas da mesma forma que O’Neil fez um grande trabalho de pesquisa, é possível notar o quanto Alan Moore se dedicou em ambientar também a fala e seus personagens.

Arte de Kevin O’Neil

Talvez este seja o ponto que possa tornar a leitura um pouco mais cansativa para leitores casuais. A escrita se adapta diretamente para a época com uma fala mais rebuscada, personalidades, além senso de humor dos personagens que tentam ser o mais coerente possível para o período que estão.

É notável como alguns personagens tentam menosprezar mulheres e a tratarem apenas como distrações que apenas atrapalham o trabalho dos homens. Ou como há um medo e repulsa geral contra estrangeiros de fora da Europa (por mais que esses tópicos continuem sendo realidade nos tempos atuais).

Durante toda a história vemos a soberba e arrogância em todos os personagens, com falas tão prepotentes que talvez chegue a incomodar até mesmo o leitor. Mas é essa captura de linguagem da época que torna o trabalho tão completo.

Considerações finais

Não embarque em Liga Extraordinário esperando algo que vá ler em quadrinhos de super-heróis normais, pois é bem longe disso. Apesar da temática de união de um grande grupo de seres habilidosos, as semelhanças acabam aí.

Arte de Kevin O’Neil

Toda a estrutura da história é feita em torno de ser um conto sobre perversidade e descrença de “heróis” inusitados que só aceitaram uma missão que cedo ou tarde os afetaria.

Sua escrita e humor “antiquado” podem ser uma barreira para os que não estão acostumados com roteiros e leituras deste tipo, mas Liga Extraordinária não deixa de ser uma grande história que cabe apenas ao leitor aceitá-la ou não.